Estudo com casal de joão-de-barro revela monogamia recorde entre pássaros

  • 25/06/2025
(Foto: Reprodução)
Pesquisa conduzida em Brasília revela caso inédito de monogamia duradoura entre passeriformes e aponta sinais de envelhecimento em casal que manteve território por uma década. Ninho usado pelo mesmo casal de joão-de-barro, em 2024 Pedro Diniz Um casal de joão-de-barro (Furnarius rufus) foi observado mantendo um laço monogâmico no mesmo território urbano por pelo menos dez anos, um feito inédito entre aves do grupo dos passeriformes, que inclui a maioria das espécies de “pássaros”. A descoberta foi descrita pelo biólogo Pedro Diniz, da Universidade Estadual Paulista (UNESP), com base em dados coletados desde 2014 no campus da Universidade de Brasília (UnB), onde o casal foi inicialmente anilhado. O macho está à esquerda e fêmea à direita forrageando em 2024, no campus de Brasília Pedro Diniz “Pelo meu conhecimento, é o casal de passeriforme mais longevo do mundo”, afirma Diniz. “É incrível pensar que eles conseguiram viver e se reproduzir por tantos anos no meio da cidade”, acrescenta. Dez anos no mesmo território O casal foi monitorado no campus Darcy Ribeiro da Universidade de Brasília (UnB), onde Diniz acompanha há mais de uma década a população local de joões-de-barro. As aves haviam sido anilhadas em 2014 e, em 2024, o pesquisador conseguiu recapturá-las e confirmar que se tratava dos mesmos indivíduos. Esse foi um filhote do casal, nascido em 2024 Pedro Diniz “O território que eles ocupam tem menos de um hectare. Eles continuavam ali, se reproduzindo e cantando nas mesmas árvores e postes. É uma fidelidade impressionante, tanto ao parceiro quanto ao lugar”, relata. Sinais da passagem do tempo Durante o intervalo de dez anos, o casal apresentou mudanças físicas e comportamentais, especialmente a fêmea, que em 2024 estava mais magra e com maior desgaste na plumagem. Fêmea foi novamente anilhada, em 2024, pelos pesquisadores. Processo é rápido e não machuca o animal Pedro Diniz Também foram registradas diferenças nos duetos vocais – marca registrada da espécie – que se tornaram menos sincronizados e com respostas mais lentas. Por outro lado, aspectos como o alcance e a modulação das vocalizações melhoraram, sugerindo que a familiaridade entre os parceiros pode trazer vantagens em termos de desempenho vocal. Reprodução tardia, mas bem-sucedida Outro indicativo da idade avançada foi o atraso na reprodução. Enquanto a maioria dos casais da população já havia concluído o período de incubação em outubro, o casal estudado iniciou essa fase apenas no fim do mês de 2024. Os filhotes só foram vistos fora do ninho em dezembro. “Mesmo com o atraso, conseguiram criar dois filhotes com sucesso. Isso mostra que ainda são eficientes como pais”, avalia o pesquisador. Monogamia social e cooperação Embora a monogamia social ocorra em cerca de 90% das espécies de aves, a duração dos vínculos varia muito. Em passeriformes, a maior parte dos casais se mantém unida por até sete anos. Os albatrozes são criaturas muito fiéis. Francesco Ventura via BBC Casos mais longos são típicos de aves marinhas, como os albatrozes, que podem formar pares por mais de duas décadas. O joão-de-barro, apesar de viver cerca de 10 anos, já era conhecido por seus vínculos duradouros e baixos índices de infidelidade sexual. “Eles fazem tudo juntos: constroem o ninho, defendem o território, incubam os ovos e cuidam dos filhotes. Essa cooperação pode favorecer a manutenção do vínculo”, explica Diniz. Novas pistas sobre a monogamia prolongada Para o pesquisador, o caso reforça a importância dos estudos de longo prazo na biologia animal. “Muitos estudos duram pouco, e vínculos como esse só aparecem com observações contínuas. Espero que esse trabalho incentive outras pesquisas sobre monogamia prolongada, não só em aves, mas em outros grupos.” João-de-barro também monitorado por Pedro Pedro Diniz O artigo foi publicado recentemente e sugere que casos semelhantes podem ocorrer em outras espécies aparentadas ao joão-de-barro, mas que são menos acessíveis para observação contínua. “É um exemplo fascinante do quanto ainda temos a descobrir sobre os hábitos e relações dos animais que vivem ao nosso redor”, conclui. Monogamia nas aves: nem tudo é fidelidade Embora a imagem de casais de aves que permanecem juntos pela vida toda seja popular, a realidade é mais diversa e complexa. Estima-se que entre 80% e 90% das espécies de aves sejam socialmente monogâmicas, ou seja, formam casais durante pelo menos uma tentativa reprodutiva e dividem parte dos cuidados com os filhotes. Essa convivência e divisão de tarefas caracterizam o que os cientistas chamam de monogamia social. Dentro desse padrão, existem dois tipos principais: Monogamia seriada: é o modelo mais comum em espécies estudadas, especialmente nas zonas temperadas do hemisfério norte. Nesses casos, o casal permanece junto apenas durante uma estação reprodutiva. Depois, macho e fêmea se separam e, na estação seguinte, formam novos pares com outros indivíduos. Monogamia perene: ocorre quando o casal permanece junto por várias estações reprodutivas, como acontece com os joões-de-barro e diversas espécies tropicais. Nesse modelo, os parceiros mantêm o vínculo por anos, dividindo não apenas os cuidados com os filhotes, mas também a defesa do território e outras tarefas. Indivíduo anilhado de joão-de-barro durante o período reprodutivo Pedro Diniz Mas é importante destacar: monogamia social não significa fidelidade sexual. Em muitas espécies monogâmicas socialmente, os parceiros têm cópulas extrapar, ou seja, se reproduzem também com outros indivíduos da população. Quando se analisa geneticamente a ninhada, nem todos os filhotes são descendentes do macho que ajuda nos cuidados. Esse fenômeno é conhecido como paternidade extrapar. No caso do joão-de-barro, a situação é diferente. Além de socialmente monogâmico, ele apresenta baixa taxa de infidelidade sexual. Estudos mostram que, na maioria das vezes, os filhotes de um ninho são realmente descendentes do casal social, o que faz dessa espécie um exemplo interessante de monogamia social associada a uma relativa monogamia genética — algo raro entre as aves. VÍDEOS: Destaques Terra da Gente Veja mais conteúdos sobre a natureza no Terra da Gente

FONTE: https://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/terra-da-gente/noticia/2025/06/25/estudo-com-casal-de-joao-de-barro-revela-monogamia-recorde-entre-passaros.ghtml


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